15 de dez. de 2009
A MARAVILHOSA CIDADE DAS ESMERALDAS
...
DOROTHY E OS COMPANHEIROS, mesmo com óculos protetores, sentem os olhos ofuscados pelo brilho da Cidade. As ruas, calçadas com pedras de mármore verde, são ladeadas por lindas casinhas, com vidros verdes nas janelas. Nas lojas, tudo é verde: doces, pipocas, sapatos, roupas.
Homens, mulheres e crianças cruzam sem parar de um lado para outro, todos vestidos de verde. Olham cheios de curiosidade para Dorothy e seu estranho cortejo; as crianças se escondem atrás das mães ao ver o Leão.
Os visitantes passam por diversas ruas, dobram esquinas, sobem e descem ladeiras. Totó caminhava ora na frente, ora atrás, ou no meio do grupo, sem latir, meio desconfiado, talvez, achando estranho não encontrar animal de sua espécie ou mesmo gato, a perambular pelas vias públicas. Não havia nem cavalos puxando carroças; os carregadores transportavam objetos em carrinhos de mão. Todos pareciam felizes e bastante prósperos. A fartura era tanta, que usavam pedras de esmeralda como dinheiro.
Em pouco mais de uma hora, chegam ao Palácio de Oz. Um Sentinela, vestindo farda verde-oliva, montava guarda ao portão real e os recebe ao pé da escada:
- Quem são eles?
- São forasteiros, querem ver Grande Oz – responde em tom solene o Guardião.
- Entrem. Levarei a mensagem ao Grande Mágico.
Imediatamente, os visitantes são conduzidos até um salão decorado com tapetes de sisal verde e móveis de madeira verde.
O Sentinela anuncia:
- Fiquem à vontade. Vou até a Sala do Trono comunicar que estão aqui para falar com o Grande Oz.
Uma hora mais tarde, retorna confirmando:
- Oz abriu exceção.
Dorothy, cheia de curiosidades:
- Oba!... Você viu o Grande Mágico?
- Absolutamente. Nunca vi o Grande Mágico. Falo com ele por detrás de um biombo bordado de ouro.
A menina, mais ansiosa ainda:
- Ele vai-nos receber?
- Sim. Concederá audiência a cada um de Vocês, em separado.
- Como assim?
O Sentinela, com firmeza:
- Isso mesmo. Receberá um a um, em dias diferentes.
- Dias diferentes!... Onde ficaremos?
- Não se aflija. Terão a honra de ser hóspedes de Oz.
O Sentinela sopra um apito verde e aparece uma moça de avental verde, já cumprimentando os forasteiros. E se dirigindo a Dorothy:
- Por favor, me acompanhe até os aposentos
A menina se despede dos amigos. Com Totó no colo, segue a Moça de Verde. Passam por vários corredores até chegar a um quarto iluminado por uma bonita lâmpada de óleo, com vista para os jardins do Palácio. O mais lindo já visto na vida: a cama macia e confortável, coberta de lençóis de seda verde. Na mesinha de cabeceira, um montão de livros, registrando fatos históricos sobre o Reino de Oz, todos ilustrados em tinta verde.
No centro do quarto, havia uma fonte pequenina, esguichando água de cheiro, que tombava numa bacia de mármore verde. O guarda-roupa, para surpresa de Dorothy, estava cheio de vestidos de seda e veludo; todos do seu tamanho e igualmente verdes.
- Veja, Totó, que lindos vestidos! – suspira a garota, encantada.
O cachorrinho, como se entendesse, abanava o rabo, concordando.
- Esteja à vontade – corteja a Moça de Verde. – Se precisar de alguma coisa, toque a campainha. Boa noite, querida.
A Moça de Verde ainda mostra a porta da casinha para higiene pessoal e vai cuidar dos outros, deixando Dorothy com mil pensamentos tramitando na cabecinha. Mas, de tão cansada, adormece logo.
O Espantalho e o Homem de Lata foram acomodados em quartos separados. O Leão teria preferido cama de folhas secas na floresta, mas como era animal de bom senso, não reclama. Aceita o conforto de um quarto palaciano e logo começa a roncar pesado.
No meio da manhã, a Moça de Verde entra nos aposentos de Dorothy. Serve o café e sugere à menina usar o mais belo vestido do guarda-roupas, enquanto amarrava uma fitinha verde no pescoço de Totó. Em seguida, as duas partem para a Sala do Trono. Atravessam vários corredores e chegam a um salão, onde muitas pessoas conversavam, aguardando audiência com Oz. Ao verem Dorothy, uma delas salta da cadeira:
- Você pretende ver Oz cara a cara?
- Claro que sim.
O Sentinela toma a mão de Dorothy:
- Vamos, menina. O Grande Oz espera por Você, embora deteste audiências.
- Serei gentil com ele, prometo.
- A princípio não queria recebê-los. Quando disse que Você calçava Sapatinhos de Prata, Oz ficou interessado. Por fim, quando falei da marca na sua testa, decidiu ver um de cada vez.
Dorothy, ao entrar na Sala do Trono, se encanta com a forma circular do salão e as paredes cobertas de esmeraldas. E mais ainda com o teto altíssimo e côncavo de onde descia uma luz tão brilhante quanto o sol. Para surpresa, em vez do Mágico, no trono estava uma cabeça gigante, completamente careca. De repente, uma voz grave ressoa por todos os lados:
- Sou Oz, o Grande! O Terrível! Quem é você? O quê deseja?
Dorothy, meio gaguejando, mas sem perder a coragem:
-Sou Dorothy, pequena e meiga. Quero ajuda do Grande Oz.
- Onde conseguiu esses Sapatos de Prata?
- Eram da Bruxa Malvada do Leste. Por azar, minha casa a matou.
- E essa marca na testa?
- É a marca do beijo da boa Bruxa do Norte. Pediu-me para procurá-lo.
- Muito bem, que deseja de mim?
- Que me mande de volta para o Kansas, onde vive minha família.
- E por que devo fazer isso por Você?
- O senhor tem poderes. Sou uma pobre menina desamparada.
- Será?... Mas foi capaz de matar a Bruxa Malvada do Leste.
- Acidente, eu juro – insiste Dorothy.
- Tudo bem!... Ganharei o quê, satisfazendo sua vontade?
- Hã!... Não havia pensado nisso.
- Comigo é toma lá, dá cá! – afirma Oz, com risadinha ameaçadora.
- O quê devo fazer?
- Simples para Você. Basta que mate a Bruxa Malvada do Oeste!
Dorothy leva susto:
- Não, não posso. Nem tenho poderes para tanto!
O Mágico pôs-se a rir, falando mais arrastado, com sotaque de malandro:
- Há.... Há.... Como não?... Você matou a Bruxa Malvada do Leste e se apoderou dos Sapatos Encantados. Pode muito bem matar a última Bruxa Malvada que vive nas Terras de Oz.
- Não posso. O senhor não pôde acabar com ela, como espera isso de mim?
- Chega de lenga-lenga. Quando acabar com essa Bruxa Malvada, prometo enviar Você de volta ao Kansas. Antes, nem pensar! – conclui Oz num tom áspero.
A menina, sentindo aperto no coração:
- Nunca matei, por querer, nem um mosquitinho.
- O problema é seu e de seus companheiros – determina Oz. - Adeus e boa sorte!
Dorothy leva a notícia aos amigos, que se assustam com as condições de Oz.
Na manhã seguinte, o Espantalho é recebido pelo Mágico. Ao entrar na Sala, em vez da cabeça gigante descrita por Dorothy, encontra no Trono uma belíssima princesa, que tinha sobre os longos cabelos negros a coroa crivada de esmeraldas; dos ombros nasciam duas asas coloridas, tão leves que esvoaçavam ao menor sopro.
Encabulado, o Espantalho se curva numa reverência desajeitada. A figura então diz:
- Sou Oz, o Grande!... Quem é Você? Por que me procura?
- Oh, Poderoso Oz! Sou um pobre Espantalho, recheado de palha e sem cérebro. Desejo um pouco de inteligência para pensar e ser homem como qualquer de seus súditos.
- E por que devo fazer isso por Você?
- O senhor é um Mágico generoso.
- Não faço favores sem recompensa.
O Espantalho franze a testa mal desenhada:
- Me desculpe, Poderoso Mágico, não entendi.
Oz aperta as sobrancelhas:
– Simples, meu caro. Você precisa de um cérebro, não é? Pois bem, terá seu cérebro. Em troca, quero que mate a Bruxa Malvada do Oeste.
- Fez o mesmo pedido a Dorothy!
- E daí? Minha política é esta; pouco me importa quem vá liquidar a Bruxa. Enquanto ela viver, não atenderei seu desejo, nem o de ninguém. Adeus, boa sorte!
Desolado, o Espantalho deixa a Sala do Trono e conta tudo aos amigos. Dorothy estranha o Mágico aparecer em forma de mulher.
- Dá na mesma – observa o Espantalho – Oz precisa mais de um coração do que o Homem de Lata.
No dia seguinte, foi a vez do Homem de Lata. Acomodado no trono, encontrou um animal medonho: o corpo cheio de pernas e cinco olhos grandes, avermelhados e ameaçadores; tinha o couro grosso e encaracolado como o de rinoceronte.
- Sou Oz, o Terrível!... uma voz rouca e cavernosa ressoava pelo salão. - Por que me procura? Quem é Você?
- Um homem feito de lata. Venho mplorar ao Grande Oz que me dê um coração e me torne igual aos outros do Reino.
- E por que motivo devo fazer isso?
- Somente Oz poderá me ajudar!
- É claro. Se deseja um coração deve lutar para merecer – grunhe Oz.
- Lutar! Como?
- Simples, meu caro. Ajude Dorothy a liquidar a Bruxa Malvada do Oeste. Feito isso, lhe darei o maior e mais amoroso dos corações.
O Homem de Lata, decepcionado como os outros, volta e conta tudo aos amigos, que ficam admirados com o poder do Mágico de se metamorfosear. O Leão, quase morrendo de raiva, promete:
- Ah, se amanhã Oz aparecer sob a forma de fera, vou rugir tão alto que, de medo, fará tudo o que eu pedir. Se aparecer como linda princesa, terei mais chances. Mas se estiver sob forma de uma cabeça, eu a rolarei pelo Salão do Trono até que atenda nossos desejos.
No outro dia, para desapontamento do Leão, o Mágico surge transformado numa cintilante e ardente bola de fogo. De dentro dela uma voz estridente, dizia:
- Sou Oz, o Terrível! Quem é Você? O que deseja?
- Sou um Leão, medroso pra dedéu. Vim pedir ao Grande Oz coragem para ser o Rei dos Animais.
- E por que lhe faria esse favor?
- O senhor é o Mágico dos Mágicos, o único capaz de satisfazer minha necessidade.
- Em troca, o quê me dará?
- É só pedir, Grande Mágico.
- Quero a morte da Malvada Bruxa do Oeste. Enquanto ela estiver viva, permanecerá medroso e covarde.
O Leão engole em seco com a proposta do Mágico. E corre para contar aos amigos a conversa.
Dorothy, com ar triste:
- E agora, que vamos fazer?
- Não há outro remédio – responde o Leão, já decidido.
– Vamos liquidar a Bruxa Malvada do Oeste.
- E se não conseguirmos?
- Pior para todos – murmura o Espantalho, cuspindo de raiva.
– Jamais conseguirei um cérebro, o Leão nunca terá coragem, o Homem de Lata continuará sem coração, e Você, Dorothy, não voltará para o Kansas.
- Não. Mil vezes não! – choraminga Dorothy.
E enxugando as lágrimas:
- Já que é assim, temos que tentar.
Mesmo sem entusiasmo, todos concordam. E decidem viajar no dia seguinte. O Homem de Lata afia o machado e se lubrifica como de costume; o Espantalho pede a Dorothy para repintar os olhos para ver melhor, enquanto a Moça de Verde enchia a cestinha de Dorothy de comida apetitosa e amarrava um sininho na fita verde do pescoço de Totó.
Dormem cedo. E acordam com o canto de um galo verde, no quintal do Palácio.
Texto: http://omagicodeoz.blogspot.com/2005/03/maravilhosa-cidade-das-esmeraldas.html
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